Como fazer para enfrentar meus problemas
- Psicóloga Mariana Nunes
- 3 de mai. de 2021
- 4 min de leitura

Todos nós temos esses modos de enfrentamento dos problemas, eles são desenvolvidos quando ainda somos crianças. Todos podem ser benéficos ou prejudiciais, depende de como os utilizamos.
*Carolina (nome fictício) estava muito ansiosa por ter que apresentar um trabalho na faculdade. Tinha pensamentos como “as pessoas podem rir de mim”, “posso esquecer o que eu preciso falar”, “vou passar vergonha na frente de todos”. Esses pensamentos a deixavam cada vez mais nervosa. No dia da apresentação Carolina passou mal e não foi à aula.
Perceba que Carolina tem a evitação como modo de enfrentamento dos problemas. Em algum momento de sua vida isso foi adaptativo. É provável que na infância ela tenha precisado evitar algumas situações para se sentir segura. Os modos de enfrentamento servem para amenizar sensações de privação emocional ou de emoções nocivas. O problema é que eles tendem a continuar sendo usados de forma disfuncional ao longo da vida, influenciando a nossa maneira de lidar com as dores emocionais.
No exemplo acima, Carolina conseguiu evitar a apresentação do trabalho. Isso fez com que ela se sentisse bem momentaneamente. Porém, ela acabou de reforçar aquele medo. Ensinou para sua própria mente que aquilo realmente era um perigo, pois ela precisou evitar e com isso se livrou do ataque. Provavelmente ela vai começar a evitar cada vez mais e isso pode se espalhar para outras áreas da sua vida.
Por outro lado, se ela tivesse enfrentado esse problema de frente teria ensinado sua mente que aquilo não era tão perigoso assim, ela teria conseguido sobreviver e superar. Quanto mais ela treinasse essa habilidade, mais fácil ficaria.
Agora vamos entender que tipos de enfrentamento são esses?
Imagine que uma pessoa está em uma selva e se depara com um leão. O cérebro automaticamente tem três opções: luta, fuga ou congelamento. Você vai escolher o que te favorecer mais naquele momento e conforme o que experimentou durante a sua vida. A primeira opção seria lutar. Nesse momento seu cérebro estaria fazendo vários cálculos, muito rapidamente, para tomar essa decisão. Percebendo que o leão provavelmente é muito mais forte que você, mesmo nunca tendo lutado com um leão na vida, a segunda opção é fugir. Talvez você estivesse encurralado, ou não tivesse aonde chegar a tempo e se esconder. A última opção é o congelamento. Seu cérebro aceita que não há o que fazer e congela, não luta nem foge. Assim, você sentiria menos dor e sofrimento.
Nos dias atuais ainda mantemos os mesmos mecanismos, mas eles aparecem de forma diferente, de acordo com as experiências e aprendizados que tivemos na infância. Eles podem até ter sido úteis para que você evitasse um sofrimento emocional na infância, mas o problema de manter esse funcionamento é que na vida adulta isso pode não ser mais benéfico para você.
Alguns exemplos para que você entenda como eles funcionam:
1) Fuga: evita a situação ou estímulo que considera perigoso, mesmo que não represente um perigo real. Visa à fuga de emoções desconfortáveis.
Por exemplo: Tiago tem medo de ir a uma festa, pois lá poderia encontrar Diana, a moça por quem ele é apaixonado. Nesse momento muitos pensamentos automáticos vêm à sua mente. “Vou dançar de forma ridícula”, “todos irão rir de mim”, “todo mundo vai ficar me olhando”, “sou desajeitado”, “Diana vai me achar ridículo”. Com essa ansiedade, Tiago evitou seu problema (perigo), não foi à festa. O problema é que, com essa atitude, Tiago reforçou ainda mais sua crença limitante. Pois evitando a situação mostrou para sua mente que aquilo realmente era perigoso. A melhor opção para ele seria enfrentar a situação. Provavelmente indo à festa ninguém o olharia e ele teria a oportunidade de ver que aquilo não era tão ruim assim como imaginava.
2) Congelamento: é desenvolvido para evitar possíveis agressões ou outras consequências nocivas. Aceita que as coisas são como são e não tenta mudar. Deixa-se levar “pela maré”. Pode submeter-se aos desejos dos outros, não conseguir expressar seus desejos e necessidades. Suprime as emoções por medo de represálias, entrar em conflitos ou ser rejeitado.
Exemplo: Angélica teve um pai que não era presente emocionalmente, precisava ser perfeita para ganhar sua atenção. Sentava em seu colo para pedir carinho, mas ele não dava atenção a ela, estava sempre preocupado com outras coisas. Sua mãe estava sempre trabalhando e não participava muito do tempo em família. Quando sua mãe chegava em casa e não estava tudo pronto como ela pedia, Angélica ainda apanhava.
Quando adulta ela vive um casamento frio, onde seu marido não lhe dá atenção. Ela tenta de todas as formas obter o desejo dele, fazendo tudo em casa e se arrumando sempre para ele, mas de nada adianta. Ou seja, Angélica aceitou que as coisas são como são e não faz nada para mudá-las.Continua tendo atitudes que fazem com que suas crenças se perpetuem.
3) Luta: tenta fazer exatamente o contrário do que aprendeu. É uma estratégia em que se busca o alívio do desconforto por meio de exageros. Obtendo o controle alivia a sensação de vulnerabilidade e insegurança.
Alguns exemplos de atitudes são: se comportar de maneira autoritária; pelo medo de ser controlado ou ferido, busca por se antecipar, tentando controlar os outros por meio de agressão ou ameaça; desconfiança exagerada; ser perfeccionista, buscando estratégias obsessivas para evitar erros ou culpa.
Por exemplo: Bianca sofreu abuso sexual quando era criança. Ao se tornar adulta começou a ter muitos relacionamentos rasos e se mostra como alguém vulgar. Isso faz com que ela se sinta no controle, porém a impede de ter um relacionamento satisfatório.
Herdamos esses comportamentos de nossos ancestrais, eles foram muito úteis para que a nossa espécie chegasse até aqui, porém hoje podem atrapalhar a nossa vida.
Todos esses modos de enfrentamento podem ser benéficos ou prejudiciais, depende de como os utilizamos. O problema é que eles tendem a continuar sendo usados de forma disfuncional ao longo da vida, influenciando a nossa maneira de lidar com as dores emocionais.
Mas calma, você pode mudar tudo isso. A psicoterapia te trará autoconhecimento, com ele você poderá entender de onde vêm essas crenças e como elas se manifestam na sua vida e reprogramar o seu cérebro. O melhor caminho é enfrentar.
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